A Cidade dos Esfaqueados



Nesse lugar cada pessoa tinha o seu punhal cravado na alma. Ela, como vidente olhava os punhais em cada um da multidão enquanto caminhava pela rua. Era tão normal para Kalas ver as pessoas conviverem com suas dores, seus rostos mostravam-se sempre anestesiados pelo materialismo desta realidade fria. Menos o seu punhal, ele era incandescente, e significava uma chave para sobressair naquela prisão, mas era perigoso, pois este estigma era severamente punido naquela sociedade.
Ela caminhava sozinha, como sempre devia estar, era seu destino, ela sabia que do começo ao fim teria que ser assim. Como ela sabia? Apenas sentia o seu vazio interior gritar, e apenas o eco de sua voz ouvia. Não havia outra opção. Como acabaria tudo? O que tinha de fazer? Uma decisão teria que ser tomada brevemente. Uma angústia que previa um fim trágico...
Obra de um acaso? Enfim, era isso que desejava, ou era ao que se acostumara. Tinha família, mas sua alma não tinha nada...
Era o seu punhal, uma lâmina invisível ao resto do mundo e que estava lá, permanente, indestrutível, ao longo de sua existência.
Essa decisão definiria a solução dessa angústia e explicaria o significado de tudo o que estava acontecendo. Inusitado? O punhal era incandescente porque só ela podia ver a dor dos outros, e a sua, que não era física gritava no silêncio e permanecia no vazio em suspenso, até que alguém ouça, além dela mesma.
Tinha que decidir se permaneceria no silêncio ou não, se revelaria que ela podia ver os punhais. Se o fizesse a condenariam.
Mas uma coisa a deixava ainda inerte, um sinal, o mesmo que a levou possuir essa visão se repetiria e enfim decidiria o que fazer.
Aquela espera marcava o seu corpo com as conseqüências de ser o que se é. Na cidade com pessoas de rostos iguais e seus punhais.

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